Morando no interior e sem muitas oportunidades de graduação, Fernanda Nascimento convenceu a mãe
de que seria um ótimo investimento estudar Sistemas de Informação.
A escolha pela graduação em Sistemas de Informação aconteceu por falta de opção na vida de Fernanda Nascimento. Em 2015, morando no município de Cedro-CE, ela apostou na área da tecnologia porque não queria cursar nenhuma das licenciaturas oferecidas pelo campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) na região.
Para defender a escolha diante de sua mãe, que achava que não tinha nenhum aproveitamento para uma cidade do interior e preferia que ela se tornasse professora, Fernanda justificou: “No futuro, qualquer bodega vai precisar de um computador”.
O futuro é agora, e se o mercado de Tecnologia da Informação e da Comunicação já estava aquecido com os processos de transformação digital das esferas pública e privada, a pandemia de coronavírus e a necessidade de otimização de uso de dados para salvar vidas foi o impulso determinante da ampliação das oportunidades na área.
Levantamento feito pela Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e da Comunicação (Brasscom) aponta que o setor de TIC é o que tem se mostrado mais resiliente frente a outros setores do mercado de trabalho nacional, devendo empregar cerca de 420 mil novas pessoas na área até 2024 em todo o Brasil.
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Entre docência e programação, ela escolheu as duas coisas
Fascinada por tecnologias desde a infância, Fernanda chegou a duvidar da própria escolha quando vivenciou as disciplinas de cálculo e lógica de programação. Mas seguiu em frente, e além de concluir o curso, fez especialização em Educação Profissional na Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) e atualmente faz mestrado em Ciência da Computação, na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN).
Seu primeiro emprego formal na área foi como educadora de informática em um projeto na Secretaria Estadual da Educação do Ceará, o e-Jovem. A oportunidade trouxe a perspectiva de ensino para a vida de Fernanda.
“Lá eu me encontrei na docência e imaginei um futuro onde eu seria uma professora de Informática. Como aqui [no Cedro] as oportunidades eram quase que nulas, e eu também tinha muito receio de não conseguir atuar na área como programadora, engenheira de software ou cientista de dados, então mergulhei na carreira acadêmica como pesquisadora, para entrar em um mestrado e depois na docência”.
Foi o hábito de buscar oportunidades na internet, de fazer projetos paralelos durante a graduação, e interagir com as comunidades de práticas ainda durante a graduação, que trouxe uma mudança de rumo na vida de Fernanda. Mas ela não esperava que durante o boom da pandemia de Covid-19, com apenas um mês de formada, a demanda por Tecnologia da Informação e da Comunicação cresceria com tanta velocidade, e a carreira como desenvolvedora começaria home office, numa empresa paulista, que agrega profissionais de vários lugares do Brasil.
Após três meses como estagiária Java, já estava como desenvolvedora plena de um Banco de Dados OLAP: ShannonDB. O ingresso no FeliciLab aconteceu em janeiro deste ano, como programadora na equipe do Mapa Digital da Saúde, plataforma colaborativa desenvolvida pelo FeliciLab/ESP. “Está sendo uma experiência única, aprendendo enormemente com a equipe, com o sistema, e tentando contribuir cada dia um pouco mais”.
As garotas do ENIAC e o preconceito no ensino
Com relação às mulheres no mercado de T.I, Fernanda resgata a história do ENIAC, primeiro computador totalmente eletrônico de uso geral, e do protagonismo 100% feminino nos recursos computacionais usados durante a Segunda Guerra Mundial. As garotas do ENIAC – Frances Bilas, Jean Jennings, Ruth Lichterman, Kathleen McNulty, Betty Snyder e Marlyn Wescoff – foram grandes líderes da área, e simplesmente apagadas do reconhecimento público de suas criações, num processo de apropriação indevida da História. E também de massificação desse pensamento de que ciências, tecnologias, engenharias e matemática (STEM) não são lugares de mulher.
“Durante a faculdade, esse tipo de pensamento me afetou diretamente: as equipes com mulheres eram vistas como mais fracas, não era todo mundo que queria fazer trabalho conosco. Via alguns colegas que não tinham paciência e/ou desdenhavam do nosso potencial, principalmente se a disciplina fosse relacionada à programação. Isso me afetou de tal forma que jamais pensei em conseguir um trabalho. Mas cabe a nós mulheres não baixarmos a cabeça para nenhum preconceito”.
Fernanda também relata que atuar na área da Saúde, que nunca foi um cenário imaginado por ela antes de entrar na Escola de Saúde Pública do Ceará, está se transformando em uma paixão, principalmente no cenário que estamos vivenciando, em que os produtos, serviços e profissionais de saúde são absolutamente essenciais para mudar a realidade dolorosa na qual estamos mergulhados nessa pandemia de Covid-19.
“O Mapa da Saúde é um sistema em constante evolução, que traz informações sobre os profissionais, os serviços e os sistemas relacionados à Escola de Saúde Pública e futuramente de toda a força de trabalho dos profissionais da saúde do Ceará. Eu acredito no potencial da plataforma para contribuir fortemente com as grandes demandas que estão por vir. Viva o SUS!”
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No próximo episódio, vamos contar a história da Camila Colares, cientista de dados do FeliciLab e coordenadora do Registro Clínico de Pacientes com Covid-19 (Rescovid)