Fortaleza, CE

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Mandala de problemas, programas e soluções, elaborada através do Design Thinking

Mandala convergente que reflete o desenho de soluções, com pessoas no centro do processo

 

Trazer as pessoas para o centro da elaboração de políticas públicas em saúde, através do Design Thinking. Com essa nova perspectiva, colaborativa e transversal, o FeliciLab – Laboratório de Inovação da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE) realizou a Oficina de Design de Serviços Públicos, durante os dias 11, 12 e 13 de agosto.

A atividade envolveu representantes de todas as Coordenadorias da Secretaria Executiva de Políticas de Saúde (Sepos/Sesa), da Coordenadoria de Tecnologia da Informação e Comunicação (Cotic/Sesa), das Diretorias da Escola de Saúde Pública do Ceará e das Assessorias de Comunicação da Sesa e da ESP/CE. E foi pensada com o objetivo de produzir o mapeamento de problemas, o entendimento dos mesmos na relação com as prioridades estabelecidas pela Sepos, e a identificação de soluções que possam atender às necessidades de cada cenário.

Ao longo dos três dias, o evento contou com a presença de 45 pessoas, de todas as áreas convidadas, marcando o aprofundamento da parceria entre Escola e Secretaria Executiva de Políticas de Saúde, na perspectiva de reestruturação da implementação de políticas em nosso estado.

“A oficina é um desdobramento da iniciativa de aproximação e de alinhamento entre dois setores extremamente estratégicos na reestruturação do SUS no Ceará. A ESP também se reorganiza com novas atribuições, e uma dessas competências é a inovação e a formatação de uma equipe que vai trabalhar um desenho de serviços públicos, que é algo extremamente moderno”, declarou o superintendente da ESP/CE, Marcelo Alcântara.

Marcos Gadelha, novo secretário de saúde do Estado do Ceará fala da importância da oficina para as políticas públicas de saúde: “Eu acho um grande momento para aperfeiçoar o processo de formação de políticas da Secretaria de Saúde do Estado. A nossa função como formulador de políticas é tentar resolver a causa raiz do problema e dentro desse processo metodológico vamos começar a divergir, enriquecer o debate, ver as dificuldades e enxergar coisas que não tínhamos pensado antes.”

Criador de soluções tecnológicas de alto impacto social, o FeliciLab é um ambiente multidisciplinar e de conhecimento aberto voltado para o campo da saúde pública e da educação permanente em saúde. “Esse diálogo com a Sepos é uma enorme oportunidade de demanda por inovação e nós estamos aqui apresentando uma proposta, com métodos para aperfeiçoar o planejamento e execução de projetos”, afirmou Uirá Porã, assessor especial de inovação da ESP/CE e coordenador do FeliciLab.

Resolução de problemas

 

A resolução de problemas com base nas necessidades das pessoas está no centro da própria evolução do Design, especialmente do Design Thinking, que atua justamente alinhando essa direção para todos os processos de criação. Começando pelo Design Gráfico, passando pelo Design de Produtos, hoje a discussão sobre o Design de Serviços está no centro das preocupações das gestão inovadoras.

Para Ranielder Freitas, líder de Design do FeliciLab, o ponto de partida é organizar e sistematizar todos os elementos que conformam um problema, pensando na origem e na motivação de cada um deles, para a partir daí começar a pensar no desenho da solução, em uma perspectiva de empatia máxima com seus stakeholders (interessados).

“A solução, às vezes, pode ser criar um produto digital, ou peças de comunicação, ou mesmo novas metodologias de trabalho. Ou seja, são várias as ramificações que nós podemos e vamos contribuir durante esse encontro.”

 

 

Para a gestão pública em saúde, o pensamento baseado no Design Thinking é ainda mais significativo porque coloca as dores das pessoas no centro de desenvolvimento dos produtos ou processos, como ponto de partida, e não somente destino final das ações.

O designer de experiências do FeliciLab e um dos facilitadores da oficina, Paulo Amoreira, relata que o Design tem uma dinâmica muito ágil, capaz de acompanhar as rotinas e ritmos das necessidades sociais, característica que também depõe a favor do Design Thinking.

“O trabalho evolui ao longo do tempo e nós partimos do pressuposto que as perguntas mudam, então as respostas esoluções também mudam. E dentro das políticas públicas, a gente vê isso muito claramente. Boa parte do nosso trabalho se baseia em indicadores para se chegar à definição de um problema. Então, essa metodologia permite fazer várias validações, a fim de garantir o resultado final.”

 

No primeiro dia da nossa imersão, na quarta-feira (11), foi apresentada a conceituação do Design de Serviços Públicos, focando a análise do modelo atual de gestão de prioridades e identificação de questões a serem desenvolvidas. As pessoas presentes foram divididas em grupos, se apropriaram da metodologia proposta e posicionaram suas demandas numa árvore que organiza os problemas por dimensões e por camadas – da base ao topo.

Para Marcelo Alcântara, superintendente da ESP, o grande diferencial da Oficina de Design de Serviços Públicos é trabalhar de uma maneira aprofundada sobre o significado das políticas públicas em saúde: “A principal mudança que esse processo traz é a compreensão de problemas complexos, e nessa caminhada nós vamos sempre centrar a solução nas pessoas e assim desenhar soluções para problemas reais, o que de fato vai agregar valor a vida dos cidadãos. Mas não é fácil, porque reverte o modelo mental mais tradicional.”

 

Transformação Digital do SUS

 

O mundo não para de evoluir, e diante dos novos desafios, a tecnologia também não. A pandemia de Covid-19 expôs ainda mais o SUS à necessidade de inovações que podem trazer melhorias para toda a cadeia: desde atendimento médico, medicina diagnóstica e procedimentos cirúrgicos, até um capacete inovador de respiração assistida, como o Elmo, ou iSUS, um aplicativo que ajuda os profissionais de saúde com informações qualificadas e baseada em evidência ao alcance da palma da mão.

Mais do que otimizar os processos, essas soluções digitais podem ainda aliviar a sobrecarga nos hospitais, melhorar o acesso à saúde e reduzir desperdícios importantes de tempo e recursos.

No segundo dia de atividades da Oficina de Design de Serviços Públicos, na quinta-feira (12), o assessor especial de inovação da ESP/CE, Uirã Porá, apontou que a transformação digital no SUS é um processo de integração de várias dimensões convergentes.

“Estamos apontando justamente para uma dinâmica em que as estratégias de comunicação, de governança, de tecnologia e de planejamento interagem e se relacionam. Então todas as políticas e programas vão ter demandas relacionadas, problemas revelados e vão necessitar de soluções. Sabemos que o mundo digital, principalmente para a gestão pública, não é só uma necessidade, mas uma obrigatoriedade. É a forma mais eficiente e barata de criar soluções.”

 

Logo depois, os participantes visualizaram a relação entre as soluções existentes já desenvolvidas pelo FeliciLab e os problemas mapeados, e fizeram o exercício de inverter a lógica de elaboração das políticas, colocando os usuários no centro do processo. E no fim do dia foi aplicado um modelo de governança colaborativa, onde todas as coordenadorias puderam construir, de maneira transversal, propostas para a resolução de problemas.

 

Malbia Rolim, assessora técnica da Sepos, falou da importância da articulação interinstitucional no contexto de transformação digital do SUS no Ceará: “A Secretaria de Saúde viu com extrema importância a necessidade de nos aproximarmos cada vez mais dos nossos próprios serviços, que compõem o Governo do Estado, para que nós pudéssemos desenvolver políticas públicas voltadas para o cidadão. A parceria com a ESP é um ótimo exemplo disso, pelo grande processo de transformação que já está acontecendo na Escola, de inovação, com seus projetos de tecnologias, e fomos procurá-la para traçar modelos de formulação de políticas públicas, trazendo o cidadão para o foco de uma forma inovadora.”

 

Para Luciene Alice da Silva, Coordenadora de Políticas em Gestão do Cuidado da Secretaria Executiva de Políticas (SESA)colocar pessoas no centro do processo significa promover integração e escuta ativa do cidadão: “Todo órgão público tem uma política específica. Dentro desse contexto da saúde, com a existência de uma Secretaria de Políticas cuja principal função é articular e integrar, e uma lei estadual de integração de ações e serviços, não podemos mais pensar em trabalhar de maneira fragmentada ou isolada do controle social. É preciso ouvir o cidadão.”

 

Na sexta-feira (13), no terceiro e último dia de oficina, com os problemas refinados e as soluções identificadas, foi a hora da validação. Os participantes iniciaram uma inception (processo colaborativo de atividades, para definir o que a solução deve atender e o que deve ser priorizado), através dos produtos já desenvolvidos ou em processo de desenvolvimento pelo FeliciLab, como a Central de Informações do SUS, o Mapa da Saúde e Gestão de Protocolos, e assim, estruturar os novos modelos de gestão de entregas, com etapas, com novas ferramentas e com mais agilidade e transparência na execução das políticas.

Com as inceptions realizadas, a Oficina está sendo sistematizada e será apresentada uma revista digital que consolida todos os problemas, propostas de solução e caminhos para o desenvolvimento de novas tecnologias ou ampliação das existentes. O resultado, contudo, vai além: se refletirá nos projetos da Sepos elaborados e implantados de fato. A expectativa é que a oficina tenha sido o primeiro passo de um novo modo de desenhar e executar políticas de saúde no Ceará.

Mais depoimentos:

“Está sendo espetacular, porque geralmente quando a gente pensa em um determinado problema, a gente foca na solução. E aqui, estamos aprendendo o caminho inverso. Temos que nos aprofundar nesse problema para enfim chegar a uma solução exata. Os problemas que achávamos que eram simples e fáceis de se detectar, quando a gente se debruçou vimos que não era exatamente isso, tinham raízes mais profundas, então, essa oportunidade está sendo ímpar e muito boa.”
(Renata Pinheiro, Coordenadora de Atenção Psicossocial da Sepos)

 

“Essa é a primeira oportunidade que estou tendo como bolsista, de saber mais sobre as políticas de saúde e dos projetos queestou participando. E eu espero que daqui saiam várias propostas de desenvolvimento para as políticas públicas.”
(Letícia Costa, bolsista do Centro de Investigação Científica da ESP/CE)