Fortaleza, CE

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A equidade, a diversidade e a inclusão importam em todos os campos, e em TI não é diferente. Nesse especial, você conheceu a história de quatro mulheres, trabalhadoras da Escola de Saúde Pública do Ceará, e suas experiências no campo da tecnologia da informação. Encerramos a série com a certeza de que inovar é trabalhar pela redução de desigualdade de gênero, agora e no futuro.

 

Nosso especial Mulheres na TI chegou ao fim e foi um importante aprendizado coletivo sobre esse cenário de desigualdade de gênero no mundo de trabalho, que se aprofunda quando o assunto é a presença feminina na área de tecnologia da informação.

Não é um debate muito distinto de todos os outros que repensam a inclusão e a diversidade nas lógicas produtivas e na própria economia mundial. Se fazer inovação é construir novas possibilidades, melhores, de resolver antigos problemas, então oportunizar mulheres a ocuparem espaços de poder no campo das tecnologias é certamente a forma mais inovadora de enfrentar a desigualdade de gênero nessa área.

No primeiro episódio da série, apontamos o apagamento histórico da participação de mulheres em eventos transformadores nas ciências, tecnologias, engenharias e matemáticas (STEM), ainda que se torne cada vez mais difícil negar a responsabilidade de mulheres por diversas descobertas e inovações ao longo do desenvolvimento da sociedade da informação. Tocamos o dedo nessa ferida, porque igualdade e diversidade são alguns dos valores que balizam nossas práticas enquanto Laboratório de Inovação da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE).

A crença de que profissões ligadas às ciências exatas combinam mais com homens do que com mulheres, e que eles teriam melhores habilidades nesse campo, tem sido paulatinamente derrubada pelas próprias ciências biológicas e humanas. E pelas vozes das próprias mulheres que estão fincando os pés e as mentes nesse território de maneira disruptiva.

E justamente por isso é preciso apoiá-las na democratização da formação e na oportunização das vagas e cargos de liderança, além da construção diária de redes de apoio que fortaleçam as bases dessa mudança, nos espaços formais e informais de produção de conhecimento. Nossa cultura ainda não se desvinculou das questões de expectativa de gênero, e abordamos esse assunto na continuação do nosso primeiro episódio da série. 

E seguimos com o debate, afirmando que a diversidade importa em todos os campos, e em TI não é diferente. As áreas de TI são catalisadoras para o alcance da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU, a fim de criar infraestrutura e serviços ao proporcionar soluções para os desafios existentes e emergentes.

Por essa razão, construir um ambiente inclusivo e equitativo é essencial para que todos se sintam de fato acolhidos e confortáveis em oferecer a melhor performance e participar ativamente de debates e decisões, além de ousar em trazer novas ideias, sem medo do erro ou da censura. Também é importante identificar e desafiar estereótipos e preconceitos de gênero que frequentemente permeiam inovações tecnológicas.

Para Gloria Bonder, coordenadora da Cátedra Regional da UNESCO para Mulheres, Ciência e Tecnologia na América Latina, “a formulação, o conteúdo e a maneira como as inovações são usadas podem ter um papel poderoso na promoção da igualdade de gênero, levando mais mulheres a se envolverem em estudos e carreiras em TI”.

Dias ‘mulheres’ virão

 

O Brasil tem um grande potencial para o empreendedorismo inovador, embora este ainda não seja explorado em sua totalidade. Segundo a última pesquisa Global Entrepreneurship Monitor Brasil de 2020, “estima-se que o Brasil deve atingir o maior patamar de empreendedores iniciais dos últimos 20 anos com um quarto da população adulta do país envolvida com o empreendedorismo por causa da crise causada pelo avanço da pandemia do novo coronavírus.”

Possuir um negócio próprio é o quarto sonho mais recorrente entre os brasileiros, à frente do desejo de fazer carreira em uma empresa. As mulheres já respondem por 45% das pessoas pertencentes ao grupo de “donos de negócio” na média nacional, de acordo com dados do SEBRAE.

Mas ainda é muito comum que as mulheres empreendam em áreas tradicionalmente femininas como vestuário, beleza e alimentação. Apesar de haver avanços, a participação das mulheres nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia, matemática e inovação ainda é mais baixa do que deveria. Há pouco incentivo para a inclusão feminina nesse setor, muito por conta de um contexto de desigualdade de gênero que estimula a percepção de que essas áreas de atuação são ligadas ao universo masculino.

É crucial que mulheres tenham oportunidades iguais para contribuir com a área de TI e se beneficiar disso. Os tempos atuais são de luta pelo reconhecimento e empoderamento feminino.

Neste especial, você também conheceu a história de quatro mulheres e suas experiências no campo da tecnologia da informação que trabalham no FeliciLab e na Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE).

 

Morando no interior do Estado, Fernanda Nascimento, apostou na área da tecnologia porque não queria cursar nenhuma das licenciaturas oferecidas pelo campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) na região. Fascinada por tecnologias desde a infância, a desenvolvedora do FeliciLab, chegou a duvidar da própria escolha quando vivenciou as disciplinas de cálculo e lógica de programação. Mas seguiu em frente na carreira e entre docência e programação, ela escolheu as duas coisas.

 

Os bordões, o carisma e a capacidade de falar muito bem em público podiam ter tornado Camila Colares uma comunicadora, mas seu coração escolheu a Ciência da Computação como profissão. Ainda que seja uma área tradicionalmente masculina, ela diz que não vê diferença entre a atuação de homens e mulheres, e que o fato de ser uma minoria tanto na formação quanto no mercado de trabalho sempre funcionou para ela como um estímulo. Coordenadora do Registro Clínico de Pacientes com Covid-19 (Rescovid), projeto desenvolvido desde maio do ano passado pelo FeliciLab/ESP, Camila já apresentou alguns resultados de relevância nacional e internacional.

 

Foi na segunda metade da década de 1990 que a história na TI começou para Irlene Rodrigues, chefe do Núcleo de Tecnologia da Informação e Comunicação (NUTIC) da Escola de Saúde Pública do Ceará. Uma outra realidade, já que na década de 90, não era comum ver mulheres trabalhando em uma área majoritariamente masculina. Mas a gestora do NUTIC, não se importou com rótulos, investiu na sua formação e especialização. E se antes a TI era conhecida por ser um centro de processamento de dados, hoje é tudo simplificado. A informação se tornou o bem mais precioso para a tomada de decisão.

 

Saber valorizar as oportunidades que a vida coloca no nosso caminho é uma habilidade essencial para aqueles que querem ir mais longe. Foi assim na carreira de Helen Hilário, gestora de projetos do NIT/FeliciLab, que desde muito jovem soube aproveitar a sua visão de futuro e começou a construir a sua carreira em tecnologia da informação e comunicação. Sua vida deu uma virada de chave ao ingressar no serviço público, podendo contribuir para a construção de grandes melhorias na saúde pública e refletir quão significativa pode ser a diferença que nossa existência pode fazer na vida do outro, um grande propósito para Helen.

 

O código de conduta do FeliciLab/ESP fomenta uma comunidade aberta e acolhedora, livre de assédio, independentemente da aparência pessoal, deficiência, etnia, idade, identidade ou expressão de gênero, identidade ou orientação sexual, nacionalidade, nível de experiência, porte físico, raça ou religião. E parte desse processo significa também repensar a desigualdade de gênero em nossas condutas, narrativas, processos seletivos e tomadas de decisão. Ainda reproduzimos um modelo de menos mulheres desenvolvedoras presentes na criação de soluções tecnológicas, mas estamos tentando compreender porque elas estão menos presentes nos processos seletivos, por exemplo, e enfrentar sem medo essa questão.

 

É um longo caminho, e estamos apenas começando.