Fortaleza, CE

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FeliciLabESP - Mulheres na TI Episódio 3

 

Cientista de dados do FeliciLab/ESP, professora e pesquisadora, Camila Colares levanta a bandeira da igualdade
e da diversidade na área de TI.

 

“Cuida, serumaninhos!”. Se você já teve a oportunidade de compor um mesmo time de trabalho com Camila Colares, já ouviu essa expressão nos chamados para reuniões remotas ou presenciais. Um modo tão característico de convidar pessoas, que acabou se tornando o nome oficial do informe interno do FeliciLab: Cuida!

Os bordões, o carisma e a capacidade de falar muito bem em público podiam ter tornado Camila uma comunicadora, mas seu coração escolheu a Ciência da Computação como profissão. Ainda que seja uma área tradicionalmente masculina, ela diz que não vê diferença entre a atuação de homens e mulheres, e que o fato de ser uma minoria tanto na formação quanto no mercado de trabalho sempre funcionou para ela como um estímulo.

“A minha turma de faculdade tinha cerca de 30 alunos. Eu me lembro de ter esse registro bem claro: vários professores comentavam que era a turma que mais tinha entrado mulher. Na época, nós éramos sete mulheres e dessas, quatro se formaram”.

Firme e forte na carreira, e apaixonada desde o princípio pelo universo dos dados, ela continuou os estudos e fez MBA em Gerência de Projetos em TI, mestrado em Ciência da Computação e atualmente está cursando doutorado na mesma área.

Sua mente e personalidade também ajudaram bastante em sua evolução na TI. Ainda que lembre de situações em que se sentiu subestimada, o que Camila sempre repete é que todos nós somos pessoas e somos igualmente capazes. Cada um tem um talento especial, um olhar diferente sobre as coisas e sobre o mundo.

“As vezes me sinto subestimada. Sinto que as pessoas não querem me passar uma tarefa mais difícil, talvez pelo fato de ser mulher, acham que a gente não sabe tudo isso… mas aí com jeitinho a gente vai entrando, vai mostrando nossos talentos. Graças a Deus eu estou em espaços, como na Universidade e na Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), em que as pessoas me conhecem há um certo tempo e sabem do meu potencial. Então já consegui mostrar quem eu sou e está sendo tranquilo para mim”.

 


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O momento é muito promissor para o ingresso e manutenção de talentos no mercado de trabalho. A necessidade de automatizar atividades e solucionar as demandas impostas pela pandemia criou um novo ‘boom’ de contratações no setor de Tecnologia da Informação.

Segundo pesquisa do LinkedIn, rede social de networking e empregos, o segmento criou 20% dos postos de trabalho remotos em 2020, entre as 15 categorias de emprego que mais contratam profissionais no Brasil. 

A chave para investir na escolha na área de TI está, segundo Camila, na percepção desse tipo de aptidão para as tecnologias: compreender o chamado e seguir em frente, olhando para si mesmas e reconhecendo o talento que têm.

“Para a pessoa entrar nessa área é preciso ter uma mente lógica muito aguçada, ter um tipo de raciocínio que talvez seja mais comum nas pessoas do sexo masculino. Mas claro que inúmeras mulheres têm essa forma de pensar, conseguem se encontrar, se adaptar e fazer a diferença. No fim das contas somos todos seres humanos e estamos no caminho de conseguir mais espaço. Eu penso que nós mulheres já vencemos muita coisa”.

 

Trocou o Mickey pelo Mic

 

A paixão por computadores veio da infância. Camila juntava todo o dinheiro que caía em suas mãos e trocava por dólar, porque o seu sonho era viajar para a Disney.

“Eu estava na 5ª série quando comecei a ter aulas de informática na escola, e fiquei muito animada. Um belo dia, a minha mãe chegou pra mim e falou: olha, já tem dinheiro para viajar, mas você prefere viajar ou comprar um computador? Eu estou vendo que você está empolgada com as aulas de informática na escola… E aí eu escolhi comprar o computador”.

Camila Colares - Cientista de dadosO Mickey ficou realmente para trás e com 15 anos Camila começou a dar aula de informática. Hoje, além de atuar diretamente na Ciência de Dados coordenando a pesquisa e também o desenvolvimento de sistemas, a doutoranda é professora universitária, e comprova na prática que em termos de quantidade, ainda há uma grande sobreposição do gênero masculino nas salas de aula.

“Minhas turmas são majoritariamente masculinas e percebo um certo receio dos alunos de perguntar, principalmente nas turmas que estão tendo aulas comigo pela primeira vez. Eu não sei se é porque eles acham que eu não vou saber responder, ou porque eles têm vergonha mesmo, ou ainda se é do próprio perfil dos estudantes hoje, que está bem diferente de quando eu era estudante.”

Fora isso, ela não vê indiferença na área da docência. “Eu sempre tive várias professoras mulheres e hoje no doutorado continuo tendo professoras que são muito respeitadas na profissão. E apesar de ser um lado majoritariamente masculino não vejo muito preconceito”.

 

Ciência de dados na saúde pública

 

Camila Colares - Cientista de dadosA produção e a manipulação de dados são aspectos centrais da sociedade da informação e da contemporaneidade. Fazemos exames médicos por smartphones, nossos celulares mapeiam nossa localização de hora em hora, agências públicas compartilham grandes bancos de dados com universidades e empresas.

“O mundo carece de análise de dados, porque a maior parte das áreas caminha muito às cegas ou de forma muito incipiente, comparada ao potencial que poderia obter, se de fato os dados produzidos em qualquer segmento fossem realmente consumidos e utilizados”.

Entre os monitoramentos da quarentena, as curvas epidemiológicas e a busca pela vacina, a história da pandemia de Covid-19 que estamos enfrentando é também uma história sobre dados.

Nos governos, essa ciência tornou-se ainda mais fundamental para que os gestores compreendam o território e as dinâmicas da população diante da pandemia, reflitam a eficiência na prestação de serviços e dos gastos públicos, e enfrentem a atual crise sanitária de maneira eficiente.

Coordenadora do Registro Clínico de Pacientes com Covid-19 (Rescovid), projeto desenvolvido desde maio do ano passado pelo FeliciLab/ESP, Camila já apresentou alguns resultados de relevância nacional e internacional. Exemplo disso foi a pesquisa sobre o processo de imunização que evitou a segunda onda de Covid-19 em profissionais de saúde no Ceará. Para ela, ver o resultado das suas pesquisas é um sentimento de missão cumprida.

“É uma missão pra mim essa questão da contribuição para a melhoria da qualidade da saúde pública no Estado. A minha formação foi praticamente toda pública, da graduação pública, passando pelo mestrado e chegando no doutorado. Então, o mínimo que eu posso fazer para retribuir e devolver todo esse investimento que o Estado fez em mim é realmente colocar os meus conhecimentos à disposição. E é muito bom, é o que faz valer a pena, acordar todos os dias e ver que eu estou conseguindo apoiar o Estado e o governo nesse caminho de melhoria de qualidade dos serviços prestados na saúde.”

 


CONTINUE NO ESPECIAL MULHERES NA TI

No próximo episódio, você irá conhecer Irlene Rodrigues, chefe do Núcleo de Tecnologia da Informação e Comunicação (NUTIC) da Escola de Saúde Pública do Ceará.